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sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Para Isso Fomos Feitos

Vinicius de Moraes

    Para isso fomos feitos: Para lembrar e ser lembrados. Para chorar e fazer chorar. Para enterrar os nossos mortos. Por isso temos braços longos para os adeuses. Mãos para colher o que foi dado. Dedos para cavar a terra. Assim será nossa vida: Uma tarde sempre a esquecer. Uma estrela a se apagar na treva. Um caminho entre dois túmulos. Por isso precisamos velar. Falar baixo, pisar leve, ver. A noite dormir em silêncio. Não há muito o que dizer: Uma canção sobre um berço. Um verso, talvez de amor. Uma prece por quem se vai. Mas que essa hora não esqueça. E por ela os nossos corações. Se deixem, graves e simples. Pois para isso fomos feitos: Para a esperança no milagre. Para a participação da poesia. Para ver a face da morte. De repente nunca mais esperaremos... Hoje a noite é jovem; da morte, apenas Nascemos, imensamente.

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